As pautas que motivaram a greve, como permanência e contratação, são problemas que encontramos em medidas diferentes em todos os campus da USP. Mostra o cenário da nossa universidade, inserida em um projeto de sucateamento das universidades públicas paulistas, advento da intensificação da luta de classes dentro da universidade, com mais filhos da classe trabalhadora dentro da universidade essa se torna cada vez menos atrativa para a burguesia.
Sabemos da diversidade dos campus da USP em diversos aspectos, não só o geográfico, mas o cultural, de infraestrutura, investimento e até mesmo a ideologia dominante do local e as lutas do movimento estudantil. Nesse sentido, a greve pode ser muito bem observada na capital, essa matéria tem o objetivo de informar e fazer balanço, a partir da construção de militantes comunistas, como esse desenrolar se deu nos interiores.
Após a Assembleia Geral, que trouxe para o dia 21 de setembro o indicativo de greve, o CAASO começou a mobilizar os estudantes para fazer movimentações que se somassem às movimentações que aconteceriam na capital e nos outros campi. Para tal, foi marcado uma assembleia do CAASO para que a comunidade discente pudesse participar e entender o momento que o campus estava, porém esta assembleia foi extremamente esvaziado e optou-se por uma mobilização que agitasse em torno das pautas gerais da USP e locais do campus. Essa mobilização atingiu uma pequena porcentagem de alunos, mas seu balanço não foi muito positivo.
Entretanto, na mesma semana, aconteceu o incidente na FFLCH (onde o diretor de maneira reacionária ordenou que a guarda universitária fechasse os prédios da FFLCH) onde adiantou a greve conjunta da USP. Isso fez com que os estudantes do campus começassem a se mobilizar independentemente e, o CAASO, agitou esses estudantes para participar da assembleia junto às secretarias acadêmicas. A assembleia contou com mais de 600 estudantes, o que equivale a um pouco mais de 10% do corpo discente. De imediato foi deliberado a paralisação para o dia seguinte, que conseguiu mobilizar muitos alunos (mais de mil). Estiveram mobilizados para realizar as diversas tarefas que a paralisação necessitou, porém alunos fura greve e alguns professores se empenharam para despiquetar as salas e fazer as aulas acontecerem. Independente dos tensionamentos, a paralisação continuou e conseguiu manter os piquetes até o fim do dia. No final do dia, ocorreu uma Plenária que debateu um balanço das atividades do dia e foi convocada uma assembleia para a terça seguinte.
Antes da assembleia do dia 17/10, ocorreu uma conversa entre os co-diretores da autogestão do Aloja e dos diretores do CAASO junto ao prefeito do campus e dos diretores dos institutos. Nela, uma parte das reivindicações que foram demandadas pelo corpo estudantil foram escutadas e que poderiam ser atendidas. Na assembleia, a diretoria do CAASO fez o repasse de quais reivindicações poderiam ser atendidas, porém alertou que isso só foi possível com a mobilização estudantil. Nesta assembleia, diferente da última ocorrida, que teve um caráter agitativo, se procurou dar um repasse e mostrar próximos passos para manter o movimento estudantil duramente conseguido ativo. Também aconteceu muito tensionamento, por haver falas contra a greve que foram recebidas negativamente entre os presentes. O CAASO agora está mais mobilizado do que já foi em anos e, estará dando consequência política para a linha da universidade popular.
Em Piracicaba houve uma tentativa de construção de uma mobilização. Já era esperado, pelos próprios estudantes, que a greve não chegaria aqui. Principalmente pelo caráter de classe do campus, no geral filhos e filhas de latifundiários e que propagam a ideologia do agronegócio de forma intensiva.
A ESALQ tem um histórico de mobilizações pontuais de movimento estudantil que se dão em torno de pautas que não mantém os estudantes mobilizados, nesse sentido a UJC por meio do DCE tem tentado fortalecer as entidades representativas, os CAs de curso e entidade geral local. Essas entidades estão enfraquecidas, na sua maioria, não tem membros orgânicos para seguir um trabalho crescente, alguns nem tem o número de pessoas suficiente para formar uma chapa, esse é o cenário que encontramos.
Dessa forma, mesmo com a pauta econômica de contratação de professores sendo importante para o campus, que tem diversas debilidades, como departamentos que podem fechar por falta de docentes, falta de professores de extensão, questões ambientais, inovações tecnológicas, entre outros, não foi possível agitar para que ocorresse uma mobilização. A diretoria do campus chamou uma reunião com RDs e CAs para entender as demandas, mas a nosso ver foi mais uma forma de desmobilização, de uma mobilização que não existia ainda, do que diálogo para resolver os problemas já que todas as respostas eram na linha de "estamos fazendo o que podemos".
A orientação e encaminhamento que propomos no CCA dos cursos era de que os CAs chamassem assembléias de curso com pauta única de greve, muitos cursos seguiram e essas assembléias não tiveram quórum para ser deliberativa e ficaram atadas a debater questões locais, sem conectar com a luta a nível USP ou mesmo a nível estadual, também reflexo da ideologia ESALQueana de "não ser USP".
Continuamos na tentativa de fortalecer as entidades e informar os estudantes sobre o seu instrumento de luta e organização, a luta coletiva.
Devido às movimentações que estavam acontecendo na FFLCH, que deram início a greve no campus do Butantã, foi marcado no dia 21 de Setembro uma assembleia geral dos três setores no campus, chamada pelo DCE, para discutir como o movimento se daria em Ribeirão Preto e como poderíamos aderir a esse movimento que acontecia na capital.
Foi escrita uma carta, denunciando todos os problemas que estavam acontecendo no campus. Dentre eles a falta de 150 docentes, salários de funcionários da segurança atrasados, o problema da falta de circulares, a gestão autoritária da prefeita do campus, dentre outros. Ficou acordado entre as forças que seria lida essa carta e seria chamado um plebiscito para discutirmos isso com os três setores do campus nos próximos dias.
A assembleia não mobilizou muitas pessoas, em torno de 50, um número ínfimo para a quantidade de mais de 10.000 estudantes de graduação e pós-graduação que estudam na USP Ribeirão. O clima é que não haveria grandes movimentações.
Entretanto, com o avançar da conjuntura na capital, alguns CA’s começaram a convocar assembleias de curso na semana seguinte que possuíram um grande quorum, com salas e auditórios lotados. Dentre eles foram notáveis os números da Psicologia, Biologia, Pedagogia e a Assembleia Geral dos cursos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
Até o fim dessa semana, tivemos quase todos os 24 cursos convocando pelo menos alguns dias de paralisação. Cursos que historicamente não participam das movimentações, como os da FEARP, ou das Exatas, aderiram às paralisações. Apesar disso, é importante ressaltar que a greve em Ribeirão teve um desenvolvimento muito desigual, com cursos do campus (como a Biologia, Psicologia e Pedagogia) bem mais avançados que outros.
Das táticas adotadas pelos estudantes, uma delas foram as ocupações, acontecendo tanto no bloco da Faculdade de Medicina (FMRP) e outra acontecendo na Prefeitura do Campus. A segunda foi bem sucedida, conseguindo reuniões com a Prefeitura e as diretorias dos institutos, alcançando vitórias parciais com um documento que promete a resolução de problemas locais do campus. Alguns deles podemos citar o aumento da frota de circulares internos e o fornecimento de refeições aos finais de semanas no RU.
Com a desocupação da Prefeitura, as movimentações em Ribeirão começaram a se encerrar. Embora com as vitórias parciais, as paralisações em Ribeirão se deram muito mais em relação a problemas locais (que também, mas não só se relacionam com o mote de contratação de professores) do que um apoio ao que acontecia na capital em si.