As atléticas universitárias configuram atualmente a Entidade responsável por representar os estudantes nos eventos desportivos, papel que era desempenhado pelos centros acadêmicos até a ocorrência da Ditadura Militar. Para além do mero formalismo de qual entidade tutela o que, esta cisão traz algumas consequências, por vezes contraditórias, para o movimento desportivo universitário e podemos destacar, principalmente, a despolitização da prática esportiva e dos ambientes esportivos na universidade. Ainda que diversos atletas - membros das atléticas - sejam também membros das gestões de Centros Acadêmicos ou então engajados no Movimento Estudantil por outros meios, a expressão política não é fomentada dentro das Associações Atléticas Acadêmicas, mesmo estas tendo reivindicações legítimas, como a falta de financiamento e a precariedade das quadras esportivas do CEPE, por exemplo.
Podemos pontuar como expressão máxima dessa cisão o comportamento dissonante entre os atletas e a diretoria da atlética. No limite, essa é uma dissonância entre a prática esportiva em si e o uso da Entidade enquanto mera promotora de eventos. No momento, as grandes festas universitárias - tanto no período anterior aos torneios quanto na programação dos torneios - são a principal fonte de financiamento das atléticas universitárias. Tal prática tem conferido, ao passar dos anos, um caráter empresarial a essas Entidades, tornando-as espaços norteados pelo lucro baseado em metas destoantes da realidade material de cada instituto, contribuindo, inclusive, para colocar na periferia de seus objetivos aquilo que deveria ser a sua prioridade: o esporte.
No dia 22/11, foi divulgada a expulsão da Geoatlética (atlética do Instituto de Geociências) do campeonato BIFE. Dentre outros aspectos, justificaram esta remoção pelo argumento de ser pequeno o público do Instituto de Geociências em relação a outras atléticas, de modo a não cumprirem todas metas impostas. Ora, realmente um instituto de 400 estudantes terá um público reduzido em comparação a institutos como ECA, IME, “ICBIO”, que contam com mais de dois mil estudantes.
O BIFE surgiu como uma junção de Atléticas de porte pequeno e médio, justamente para construir um campeonato integrando as comunidades de fora da hegemonia das atléticas tradicionais e de grande porte. A expulsão da geoatlética sugere o início de uma tendência de comercialização do esporte universitário, o elitizando e transformando em mera máquina mercenária de lucro.
A União da Juventude Comunista entende a mercantilização do esporte como um movimento que distancia a classe trabalhadora dos espaços desportivos, e não apenas no âmbito universitário, acreditando, assim, no papel das atléticas como ferramenta na popularização do esporte, promovendo maior integração interna, entre a comunidade universitária, e externa. Inclusive, a integração tem um papel crucial na permanência des estudantes em seus cursos.
É notório o uso que várias atléticas fazem da pauta de permanência estudantil como justificativa de sua existência, porém, na prática, a maioria das atléticas começaram a demonstrar um funcionamento empresarial, baseando todas suas finanças em festas mercenárias, com prática de preços abusivos, inacessíveis aos estudantes trabalhadores. Então, surge o "lote social", em que es estudantes que comprovarem o recebimento de auxílio financeiro têm direito ao ingresso mais em conta. O que seria isso senão a permanência enquanto moeda de lucro?
Se a função das atléticas é servir de amparo à permanência estudantil, então deve-se também criticar o silêncio de várias atléticas no que concerne às insuficiências do PAPFE (que serve a interesses privados, como demonstrado pelo programa USP Diversa). Ora, se as atléticas não conseguem se posicionar e mobilizar acerca das condições materiais de permanência de seus membros, então as atléticas servem a quem? Se as atléticas não se colocam enquanto liderança na luta pelo acesso universal aos centros de treino esportivo e melhorias nesses espaços, então as atléticas existem para que?