No dia 26/10, seguindo o calendário aprovado na Assembleia Geral anterior (18/10), ocorreria uma nova Assembleia Geral da USP. Um dia antes, a Reitoria, através da Pró-Reitoria de Graduação, lançou uma circular que prevê a frequência máxima de 68% para cursos que paralisaram durante 6 semanas. Considerando que 70% é o mínimo de frequência necessária, esses estudantes estariam todos reprovados, quase 3 mil seriam jubilados e bolsistas perderiam seus benefícios. A reitoria assim desrespeitou dois de seus compromissos assinados na mesa de negociação da greve: a não punição de nenhum estudante grevista e a elaboração de um novo calendário acadêmico com a participação estudantil. Frente a esse cenário, um grupo de estudantes decidiu ocupar o Bloco K no dia 26/10 para pressionar a revogação da circular, numa ação legítima em meio a um movimento grevista enfraquecido.
Para proteger a ocupação de repressões e dar visibilidade para que mais estudantes a construíssem, foi pedido ao DCE realizar sua Assembleia em frente ao Bloco K, e não em frente à reitoria. Nossos companheiros da gestão do DCE, Juntos! e Correnteza, propuseram primeiro mudar o local para a FFLCH, com o qual não concordamos. Por causa disso, depois, propuseram o cancelamento da Assembleia - e até mesmo divulgaram, à revelia de nossa posição - para realizar um ato em frente ao Bloco K. A justificativa era evitar a repressão que a Assembleia poderia engatilhar. Porém, um ato político não poderia ter o mesmo resultado?
No fim, suas preocupações eram outras: o medo dos rumos da direção do movimento grevista, e que por isso nos levasse à mesma derrota da greve de 2017. Assim, sua resposta foi ausentar-se da disputa em assembleia e abandonar as bases estudantis presentes, ignorando o papel do DCE em escutar e representar os estudantes. Nesse sentido, decidimos compor e manter a Assembleia já convocada, com um diretor nosso do DCE na mesa, legitimando o espaço.
Durante a Assembleia, Juntos!, Correnteza, Afronte, RUA e JCA postaram uma carta em que fazem uma crítica ao que aconteceu e aos setores que a compuseram, chamando-os de “sectários” e apostando numa unidade abstrata. Mas que unidade é essa que queria manter a assembleia na FFLCH ignorando a ocupação dos estudantes? Que unidade é essa que se dá completamente afastada dos quase 500 estudantes que estiveram na última assembleia? Que unidade é essa que não ajuda na construção de uma ocupação legítima dos estudantes? A “unidade” apresentada na carta não significa nada na prática, pois não tem nenhum objetivo político claro e nenhuma tática definida. É uma unidade que se furta da realidade, do movimento real que, naquele momento, se colocava na ocupação do Bloco K, não na FFLCH.
Outro ponto fundamental é entender as linhas em disputa e o seu movimento. A indignação dos estudantes é legítima e, ao invés de demonizá-la, precisamos ouvir e atender suas angústias com firmeza em nossa linha. Na conjuntura em que estamos, a falta de compreensão disso abriu margem para o discurso anti-entidades crescer em alguns setores. Assim, a tarefa das forças do ME é apresentar com clareza a defesa da legitimidade das entidades como ferramenta de luta dos estudantes, sem se abster dos espaços.
É preciso termos solidariedade de classe e não abandonar estudantes dispostos a lutar. Uma tática mais radicalizada como a ocupação precisa ser reconhecida pelos diversos setores do ME diante do fato político colocado. Seu objetivo político é claro, pois responde a uma medida reacionária da reitoria, de perseguição ao direito de organização e à permanência estudantil, mesmo num momento claro de fim da greve. Há um objetivo político concreto que trabalha para levar a luta pela Universidade Popular às últimas consequências, coisa que muitos não estão dispostos a construir no dia a dia.
Por outro lado, é inegável que, apesar da ocupação em si jamais ter pautado organizadamente um discurso anti-entidades, há quem individualmente instrumentalize essa radicalização de maneira oportunista de modo a propagar uma linha de deslegitimação das entidades estudantis. É preciso apontar as críticas de forma honesta e não deixar que uma linha rebaixada tome conta de momentos centrais para o ME e que as entidades sejam reconhecidas como ferramentas de luta dos estudantes. No que pese a forma pouco massificada que foi construída a ocupação é necessário, enquanto comunistas e membros do DCE, reconhecermos a legitimidade da tática.
O DCE, CAs e Grêmios precisam ser entidades democráticas e combativas, instrumentos de um contrapoder de estudantes e trabalhadores na universidade para derrubar o poder da burguesia. Nós da UJC, enquanto gestão do DCE, achamos fundamental construir essa ocupação, legitimar a última assembleia estudantil e tornar transparente os debates sobre o ME. Esse é o momento de não nos ausentarmos da disputa em nome de uma unidade abstrata que nada faz na realidade, que não aponta os próximos passos, e nem por um discurso que apenas simula uma radicalidade de forma inconsequente. É preciso que o DCE lute de fato como entidade combativa junto de suas bases. Isso é condição para elevarmos nossa capacidade organizativa e a consciência estudantil na USP, através de nossas entidades, visando a construção da Universidade Popular e a tomada do poder.
Por isso, defendemos: