Nota do Movimento pela Universidade Popular e da União da Juventude Comunista sobre a greve na USP

Não é necessário abaixar a cabeça para todas as injustiças só porque essas são cometidas por quem tem toda a estrutura de poder sob seu controle. É possível mudar a estrutura!

Por UJC-USP, em 13.10.2023 · 5 mins

A greve é um processo histórico que impacta e mobiliza diferentes setores e atores políticos - no caso atual, estudantes, professores e funcionários -, que pressupõem uma necessidade de massificação em direção a radicalização por outro modelo de universidade, que rejeite completamente o projeto neoliberal e que seja da classe trabalhadora e para a classe trabalhadora. Nesse sentido, o movimento grevista não se pode deixar cair em um uso oportunista dessas mobilizações, que não reivindique os verdadeiros interesses da classe trabalhadora ou que se restrinja aos horizontes da universidade burguesa.

Esse burocratismo Liberal se expressa especialmente, mas não somente, no contentamento e anúncio de pequenas concessões da Reitoria para o movimento como "grandes vitórias". Isso se expressa em discursos onde, implícita ou explicitamente, há uma empolgação com migalhas como "o reitor aceitou negociar", "temos uma assembleia cheia", "das 15 reivindicações, duas foram atendidas, Logo avançamos".

A UJC se coloca enquanto agente política a fim de canalizar a força dos estudantes para que criemos, em contato com as bases, um movimento combativo, consequente, que não seja determinado pela reitoria, nem por certas forças políticas somente, de modo artificial e isolando as bases com decisões de cúpula. Em momentos cruciais como este, é essencial o alinhamento de todos os estudantes, em conjunto, junto ao DCE e CAs, para organização do Movimento Estudantil (ME).

Além disso, apesar das vitórias parciais, o balanço sobre a greve e seu impacto político e econômico não pode ser conformista: trazer uma variedade de pautas, trazer a permanência estudantil, as cotas e o acesso indígena, para além de contratação de professores, foi o que nos permitiu termos vitórias significativas para setores da universidade que sofrem com opressões cotidianamente. Este momento agora precisa ser propulsor para vitórias e mobilizações muito maiores! Devemos apresentar enquanto pauta do movimento para o próximo período a questão orçamentária das universidades paulistas e a austeridade fiscal, dentro do contexto de um governo de conciliação privatista a nível nacional, com Lula-Alckmin, e fascista a nível estadual, com Tarcísio de Freitas, que impactam diretamente na estrutura social e política do país e do estado.

Em última análise, o movimento grevista pode ser visto coo um meio para um fim, e não como um fim em si mesmo. Analisamos a universidade e seus problemas políticos e econômicos como nunca antes, entendendo que a Universidade de São Paulo mudou muito, no avanço do projeto burguês de privatização, tendo sua expressão máxima no teto de gastos imposto pelo parâmetro de sustentabilidade e o avanço na terceirização de serviços, tirando da universidade pública seus recursos e alocando na iniciativa privada. Dessa forma, compreendemos melhor as profundas raizes do neoliberalismo.

Assim, entendemos que o final da greve não deve ser atropelado, deve ser construído de acordo com os acúmulos de cada curso, tentando, nessa reta final, nos contrapor ao que a reitoria está nos oferecendo - não podemos nos pautar por ela. Devemos aumentar nossa mobilização para pressionar por vitórias concretas, respondendo à insuficiência das propostas apresentadas pela reitoria e o absurdo que é fechar as portas à negociação num momento tão crucial. Assim, planejando futuramente, um fim de greve consequente junto com os cursos, com um balanço honesto do que foi conquistado.

Estamos muito mais conscientes sobre a necessidade da organização coletiva e como somente ela pode garantir os avanços necessários rumo à uma Universidade Popular e à tomada do poder! Rumo à estratégia da Revolução Socialista! Por isso, reforçamos, a necessidade da organização estudantil e dos trabalhadores, junto às entidades de base e às organizações políticas, para que possamos dar consequência a todos os acúmulos que conseguimos durante a greve.

Somos capazes de nos organizar para formular e usar desse espaço para nos formamos política e organizativamente, e aprendermos com os nossos erros e fraquezas, construindo acúmulos que possibilitarão a conquista de vitórias sólidas no futuro. É possível forjar na luta uma consciência estudantil de que "não é necessário abaixar a cabeça para todas as injustiças só porque essas são cometidas por quem tem toda a estrutura de poder sob seu controle. É possível mudar a estrutura!"

Nota originalmente publicada no instagram (@mup.usp) e divulgada amplamente aos estudantes da Universidade de São Paulo na tarde de quarta-feira (10 de outubro de 2023), às vésperas da Assembleia Geral dos Estudantes da USP Capital.


RECENTES

Mobilização nos interiores - Parte 1: São Carlos, Piracicaba e Ribeirão Preto

Sabemos da diversidade dos campus da USP em diversos aspectos, não só o geográfico, mas o cultural, de infraestrutura, investimento e até mesmo a ideologia dominante do local e as lutas do movimento estudantil. Nesse sentido, essa matéria tem o objetivo de informar e fazer balanço, a partir da construção de militantes comunistas, como esse desenrolar se deu nos interiores.